Texto: Lidiane Moura
Fotos: Charone Borato
É muito comum em uma roda de conversa ouvirmos que café especial é caro, que o valor praticado pelas cafeterias é alto, mas quanto realmente vale uma xícara de café? Entender o caminho que o café percorreu até chegar na sua xícara possibilitará fazer por si só suas avaliações e, assim, entender o real valor do seu café.
Cronologia da produção
Você já parou para pensar que para chegar na sua xícara o café leva em média 6 anos para passar de uma semente para o café coado? Vamos explanar essa escala:
- 5 anos: desde a germinação da semente até que se torne frutífero
- 12 a 15 meses para uma colheita: ciclo fenológico bem definido: florescimento na primavera, frutificação no verão, maturação no outono e colheita no inverno
- 30 dias: da colheita, passando pela secagem e chegando ao armazenamento. Esse tempo varia de acordo com os processos utilizados e as condições climáticas
- 15 dias: de descanso, é um período que o café costuma ter após a colheita e o beneficiamento.
- 60 dias: tempo médio em que o café é comprado, torrado, embalado e vendido para o consumidor final, cafeterias, e-commerces ou mercados o mais fresco possível.
Profissionais que participam da cadeia
No preço de cada café, existe uma parcela que alimenta uma cadeia inteira:
- Produtor rural, seja pequeno, médio ou grande
- Trabalhador rural
- Beneficiadores de café
- Classificadores, degustadores, Q-Graders, Coffee Hunters
- Armazéns ou cooperativas
- Transportadoras
- Comercializadores
- Torrefadores
- Empresas de embalagens
- Cafeterias
Cafeterias
Falando do custo das cafeterias, que muitas vezes não ficam explícitos, focando nas bebidas, sem considerar as comidinhas:
- Aluguel do espaço
- Móveis, equipamentos, máquinas e utensílios (alguns podem ser alugados como a máquina de espresso e o moinho)
- Contas de água, luz, telefone, internet
- Salário do barista
- Salário do mestre de torra (se houver)
- Salários de outros funcionários
- Manutenção e reposição de máquinas e utensílios
- Insumos: filtros de papel, guardanapos, açúcar, leite, água, entre outros
- Café especial
Aqui vale ressaltar que quando a cafeteria opta por torrar o café, pode haver perdas no processo até que se acerte o perfil ideal, principalmente quando se trata de um café que nunca foi trabalhado antes.
Mercado e o preço do café
Seja no supermercado ou na cafeteria, é nítido o aumento dos preços do café, especialmente, no período pós-pandemia. Quando se compara os preços atuais aos preços de 2 anos antes, por exemplo, percebe-se aumento que podem chegar a 100%. O preço da segunda bebida mais consumida no planeta é composto por uma série de variáveis, além de possuir forte influência do mercado internacional. Mudanças climáticas, períodos de colheita, decisões governamentais, tudo interfere no preço do café.
Entre os fatores que levaram a esse aumento estão uma produção mundial menor no ano anterior, efeitos das mudanças climáticas e a Guerra na Ucrânia, que abalou o mercado de insumos agrícolas.
“O café é uma planta. Então, está suscetível a questões climáticas, como geada, seca, chuva demais. E o que a gente viu no Brasil foi que, em meados de 2019-2020, tivemos uma safra recorde e, na sequência, que coincidiu com a pandemia, houve duas quebras de safra, que foram em 2020-2021 e 2021-2022. Quando se imaginava que o negócio ia melhorar, teve a pandemia e, com ela, outro componente que influencia no preço, que é o câmbio, que ficou bastante elevado. Como a gente sabe, o café é uma commodity, tem um preço de referência e é negociado na bolsa”, explica o economista André Morais.
Anette Moldvaer, em seu livro: O livro do Café, traz, “o café mais barato nunca é de alta qualidade. Ele provavelmente não foi negociado a um preço que cobria os custos de produção.” E continua, “A diferença de preço entre o café de baixa e o de alta qualidade é em geral bem pequena, o que torna uma xícara de café boa de verdade um dos luxos mais acessíveis que o consumidor pode obter.”
Agora que você conhece os caminhos que o café percorre até chegar à sua xícara, os custos e pessoas que são envolvidos e impactados em todo o processo, eu te pergunto: Quanto vale sua xícara de café?
Referências:
MARCUCCI, Cíntia e KANETO, Gabriela. Vale o que vier? Café Editora, São Paulo, edição 79, p.44-53, março, 2023.
MOLDVAER, Anette. O livro do café. 1ª edição. São Paulo. Publifolha, 2015.
Parabéns Lidiane pela explanação, realmente uma longa trajetória que nos faz refletir do quão grande valor os cafés especiais tem. Não só pelo o que experimentamos na xícara, mas por todo o caminho percorrido, por todas as pessoas que cuidam para que ele seja significativo e marcante. Agradeço a Cafés do Brasil Club pelo excelente trabalho de trazer até nós essa reflexão e experiência magnífica com o verdadeiro café brasileiro.
Obrigada Thibério! São reflexões como essas que nos fazem ver que muito mais do que o preço que pagamos pelo pacote de café, está o valor por trás dele, cada etapa e cada mão que foram necessárias para que chegassem à nossa xícara e isso é com toda certeza imensurável! E claro que, trabalhar em uma empresa que valoriza todas as etapas e faz questão de garimpar os melhores cafés do Brasil é sem dúvidas uma experiência riquíssima e gratificante.
Bela explanação! Diferente de tudo que já li sobre café.
Olá Eder! Que bom que gostou, continue nos acompanhando que sempre iremos trazer conteúdos assim!